Imunização Vacinas: RN apresenta queda na cobertura vacinal nos últimos dez anos

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O índice de vacinas realizadas no Rio Grande do Norte em 2018 foi o pior dos últimos dez anos, segundo os dados do Ministério da Saúde. Foram 1.165.711 doses aplicadas no estado inteiro até 21 de dezembro, data da última atualização, com uma cobertura de 30,7%. São 2,1 milhões a menos que em 2008, que registrou 3,3 milhão de doses e uma cobertura de 72,07%. As razões para a queda, segundo especialistas, são as campanhas “anti-vacinação” que se espalham no Brasil com informações falsas sobre vacinas e a falta de conhecimento sobre epidemias hoje erradicadas.

Essas campanhas, para a chefe do Setor de Estatísticas Vitais do Departamento de Vigilância em Saúde (DVS) da Prefeitura de Natal, Aline Delgado, disseminam mentiras como afirmações que a “vacina põe a doença no corpo” e “pode causar consequências com outras doenças”. “Nenhum estudo científico mostra isso, não tem comprovação. Por outro lado, o verdadeiro resultado das vacinas a gente vê hoje: a paralisia infantil acabou no Brasil, o sarampo estava erradicado”, afirmou.

O presidente do Conselho Regional de Medicina (CREMERN), dr. Marcos Lima também lembra de como as vacinas contribuíram para erradicar diversas doenças: “a vacinação já demonstrou sua eficácia com a redução na incidência e até extinção de doenças que afetavam especialmente as crianças e adolescentes. Por exemplo, as meningites provocadas pelo haemophilus influenzae que frequentemente complicava com quadros neurológicos graves e que lotavam o setor de Pediatria do Hospital Giselda Trigueiro na década de 1990. Fui testemunha desse fato. Seguramente temos adultos sequelados daquela época e com a vacinação esses casos graves foram reduzindo até desaparecerem”.

Esse tipo de campanha causa efeitos negativos nos índices de imunização do Brasil desde 2017. Dados do Ministério da Saúde mostram que foi o ano com o menor nível de vacinação dos últimos 16 anos. Apenas 71% a 84% das crianças até dois anos foram vacinadas contra doenças como a poliomelite, o sarampo, caxumba, rubéola, difteria, varicela, rotavírus e meningite. A meta de imunização é sempre 95%. Os dados nacionais de 2018 ainda não foram divulgados.

Seguindo o cenário brasileiro, o Rio Grande do Norte também apresentou uma queda em 2017 em relação a anos anteriores, mas foi superado por 2018. O ano teve 90 mil doses a menos em relação ao número de 2017, que registrou 1.253.613 imunizações. Todas as vacinações, de ambos anos, ficaram abaixo de 95% de cobertura. O dado mostra um cenário diferente mesmo entre anos recentes. Em 2015, por exemplo, quatro campanhas de imunização atingiram a meta e a cobertura média foi de 92,4%.

Uma das piores porcentagens de vacinação local no ano passado foi registrado na dose tríplice viral. Somente 51,7% das doses foram aplicadas. Em 2017, essa mesma vacina teve um índice de 78,9%. Essa vacina previne o sarampo, doença considerada extinga por muitos anos, mas que tem 10.274 casos registrados até o último dia 8 em vários estados brasileiros. Atualmente, há surtos da doença no Amazonas, com 9,7 mil casos, e em Roraima, com 355 ocorrências.

O Rio Grande do Norte não teve registro da doença, mas há casos isolados em estados nordestinos como Pernambuco e Sergipe. Segundo Aline Delgado, as autoridades de saúde se preocupam com o retorno do sarampo e investigam todos os casos considerados suspeitos. No ano passado uma campanha de vacinação contra a doença também foi realizada em todo Brasil.

Aline Delgado considera a falta de informação da população mais jovem sobre epidemias que foram erradicadas no passado um fator que contribui para as quedas da vacinação. É o caso de doenças como a paralisia infantil, erradicada em 1990 no Brasil. “Parte das mães mais jovens não conheceram e não sabem o que é a paralisia infantil (poliomelite), o sarampo. Não se preocupam em levar seus filhos para se vacinar porque não temem essa doença”, disse.

Uma estratégia adotada pelo Ministério da Saúde para diminuir essa postura, seguida pela gestão do Município de Natal, é de publicar informações sobre essas doenças que podem ser evitadas com a vacina. As campanhas de conscientização mostram o que são a polio e o sarampo, os riscos e o histórico das doenças no Brasil.

Para o Dr. Marcos Lima, o Estado deveria intervir na situação através do aumento de campanhas publicitárias e que conscientizem a população, além de possibilitar o acesso à educação para que mais pessoas tenham acesso ao conhecimento e possam entender a importância da imunização - “cabe ao Estado informar a população, através de campanhas publicitárias, sobre a importância de vacinar nossas crianças. Esse seria um bom uso da verba destinada à publicidade. Investir na educação básica para que tenhamos cidadãos informados e conhecedores da importância de temas relacionados a sua própria saúde, podendo utilizar as escolas como meio de divulgação das políticas de saúde. Se o Estado permanecer acreditando que comprar e fornecer vacinas é suficiente, seguiremos reduzindo os índices de vacinação e voltaremos a ver crianças e adolescentes em estado grave por doenças que poderiam ter sido prevenidas", encerra.

Com informações da Tribuna do Norte 

 

 

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